A depressão segue como um dos maiores desafios de saúde pública no Brasil. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 11,5 milhões de brasileiros convivem com o transtorno, enquanto mais de 1 bilhão de pessoas no mundo enfrentam algum tipo de sofrimento mental. Para ampliar o acesso a ferramentas de triagem, pesquisadores do Centro de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental (CISM) e de quatro universidades públicas desenvolveram uma Calculadora On-Line Transdiagnóstica, disponibilizada gratuitamente ao público.
A ferramenta é resultado do estudo “Propriedades clínicas do questionário breve de humor e sentimentos” e foi desenvolvida por uma equipe ligada ao CISM, sob supervisão do professor Mauricio Scopel Hoffmann, do Departamento de Neuropsiquiatria da UFSM. A plataforma, hospedada no Shiny App, permite identificar sintomas de depressão e outros transtornos e pode ser usada em consultórios, unidades básicas de saúde, clínicas de psicologia ou por qualquer pessoa interessada em avaliar seu estado emocional.
Hoffmann explica que o objetivo é democratizar o acesso à triagem em saúde mental. “É gratuito e pode ser acessado de qualquer lugar. O software permite uma avaliação inicial dos sintomas. O artigo científico já foi publicado e seguimos desenvolvendo escalas que ajudem a identificar riscos e prever possíveis desdobramentos clínicos”, afirma.
A discussão sobre a ferramenta integrou o programa Brasil ODS, que reuniu Hoffmann e o psicanalista André Ferreira Bezerra, mestre e doutorando em Psicologia Social pela USP e pesquisador visitante da University of Kent, no Reino Unido. Bezerra destacou que o sofrimento emocional não deve ser tratado apenas como um problema individual, mas contextualizado em experiências sociais, familiares e profissionais. Para ele, abrir espaços de escuta e compreensão é essencial para que as pessoas possam nomear o próprio sofrimento e buscar caminhos de enfrentamento.
O programa também abordou o uso de inteligência artificial como apoio ao diagnóstico. Pesquisadores ressaltaram que a tecnologia não substitui profissionais, mas pode ajudar na identificação precoce de sintomas. Hoffmann alerta, porém, que o avanço tecnológico precisa ser acompanhado pelo sistema de saúde. “Se todos identificam sintomas, mas o sistema não acompanha esse aumento, o sofrimento se agrava. É preciso alinhar tecnologia, serviços públicos e políticas de prevenção”, diz.
Os especialistas também discutem como fatores sociais e econômicos têm influenciado o crescimento de quadros de ansiedade e depressão nos últimos anos.
A Calculadora Transdiagnóstica SMFQ está disponível gratuitamente e pode ser acessada aqui.
(Redação ONG News)