Projeto usa garrafas PET para ensinar stand up paddle

O objetivo é levar educação ambiental e conscientização sobre o mar para crianças de escolas públicas na região da Urca (RJ)
Estudantes aprenderam na internet como fazer pranchas sustentáveis. Foto: Equipe Stand UPET
Estudantes aprenderam na internet como fazer pranchas sustentáveis. Foto: Equipe Stand UPET

Na Praia da Urca, no Rio de Janeiro, um projeto social está usando o stand up paddle para ensinar muito mais do que equilíbrio sobre a água. Com pranchas de stand up paddle e bodyboard feitas de garrafas PET e materiais recicláveis, o Stand UPET oferece aulas gratuitas de para crianças, jovens e moradores da região, conectando o corpo, a mente e o meio ambiente.

Criado por estudantes do curso de Oceanografia da UERJ (Universidade estadual do Rio de Janeiro), o projeto nasceu da vontade de unir o conhecimento científico com a prática esportiva e a conscientização ecológica. E surgiu durante uma paralisação da universidade, na qual os estudantes se viam sem poder estudar e resolveram voltar o tempo e o foco para realizar ações comunitárias.

De lá para cá, o Stand UPET virou um projeto de extensão universitária e passou a receber grupos de escolas públicas e iniciativas sociais, em encontros que misturam esporte, ciência e cidadania.

Uma prancha é feita com cerca de 100 garrafas PET. Foto: Equipe Stand UPET
Uma prancha é feita com cerca de 100 garrafas PET. Foto: Equipe Stand UPET

Uma prancha, cem garrafas – Cada prancha utilizada nas aulas é construída com cerca de 100 garrafas PET, canos de PVC, tábuas de plástico para cozinha reaproveitadas, cola, tesouras, lixa e muita criatividade. Além de funcionar perfeitamente sobre a água, a prancha é símbolo do que o projeto defende: resíduos recicláveis podem (e devem) ganhar novos sentidos.

“A partir de um tutorial na internet de um outro projeto que desenvolveu esse método, nós começamos a fazer nossas pranchas aqui. As primeiras ficaram bem ruins, esquisitas, mas nós vimos o potencial delas para a causa dos oceanos”, conta Breno Fontel, oceanógrafo e cofundador do Stand UPET. Cada prancha tem um valor de custo estimado em 390 reais, abatidos pelas doações dos materiais e coletas na comunidade e em cooperativas de reciclagem.

“Geralmente, o projeto atinge crianças que nunca tiveram acesso a esse tipo de esporte. Elas falam que é o melhor dia da vida delas na escola”, relata Breno, aos risos.

Educação ambiental com os pés na terra – A atuação do Stand UPET vai além da praia. O projeto também trabalha em parceria com o coletivo AFU (Agrofloresta da Urca), transformando espaços ociosos em hortas agroflorestais. Atualmente, os mutirões acontecem em três pontos do bairro e também na Escola Municipal Estácio de Sá, onde os alunos participam de atividades ligadas à compostagem, plantio, colheita e cuidado com a terra.

Desde 2019, a escola recebe ações do projeto que integram os resíduos da cantina escolar no processo de compostagem, tornando o ciclo visível para os próprios estudantes. É a partir dessas experiências práticas que os jovens desenvolvem uma nova relação com o meio ambiente — e com a alimentação também.

Recriar o vínculo com o oceano e com a sociedade – O Stand UPET tem como missão reconstruir o vínculo social com o mar, especialmente em um contexto urbano em que o contato com a natureza é, muitas vezes, limitado. Ao oferecer uma vivência direta com o oceano, o projeto busca não apenas informar, mas gerar conexão e pertencimento.

Além das aulas de stand up paddle e das ações em escolas, o projeto participa de mutirões de limpeza de praia, oficinas educativas e eventos ambientais, sempre com o objetivo de mostrar, na prática, como o lixo pode ser evitado — e transformado.

Segundo Raphael Lefevre, voluntário do projeto, a comunidade é amplamente beneficiada. Outros voluntários começaram a se inspirar e realizar a compostagem em casa, e moradores de rua participantes puderam ter uma maior reinserção social. “A gente tem relatos de pessoas que começaram a frequentar o projeto e fazer a compostagem. E moradores de rua que começaram a se relacionar com pessoas e gerar fonte de renda, vendendo terra adubada para os moradores da Urca”, conta.

A realidade dos oceanos – Segundo estimativa da UNEP (United Nations Environment Programme), em 2024, foram gerados globalmente cerca de 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos. Junto a essa realidade, aproximadamente 11 milhões de toneladas de lixo entram nos oceanos anualmente.

Mas, disso tudo, apenas 9 a 12% são reciclados — o restante é incinerado, colocado em aterros ou descartado. Se o cenário não se modificar, a estimativa é de que a produção de plástico triplique até 2060. Em tempos de crise climática, o Stand UPET mostra que é possível fazer ciência e transformação social com criatividade, ação coletiva e amor pelo oceano.

O Stand UPET – Até o momento, foram mais de 50 escolas e instituições de ensino participantes, mais de 10 mil pessoas atingidas, e mais de 20 mil itens coletados das praias, em 7 estados visitados. O Stand UPET segue projetando sua voz em escolas, em palestras e na comunidade.

“Nossos sonhos são oceânicos. A educação ambiental tem que fazer parte de todas as escolas, tem que estar presente em todos os lugares. E, mais do que isso, tem que começar em casa: dar o exemplo, e evitar que o lixo chegue no mar”, vislumbra Breno Fontel.

Para quem quiser ajudar o projeto, é possível realizar doações em dinheiro ou de equipamentos, como pranchas, caiaques, Snorkels infantis, coletes salva-vidas infantis, remos, ou ainda, de material de arte para atividades educativas com as crianças. Basta entrar em contato pelo perfil do instagram do Stand UPET (@standupet) – https://www.instagram.com/standupet/

(Fernanda Lagoeiro para ONG News)

Compartilhe esta postagem

WhatsApp
Facebook
LinkedIn

acompanhe nossas

outras notícias

plugins premium WordPress